ELISA RIBEIRO
DA REDAÇÃO
Não basta apenas querer resultados, é preciso investir nos atletas brasileiros, muito além do aporte financeiro. Quando se trata de alto rendimento, ter apoio de uma equipe multidisciplinar e estrutura adequada para treinos é fundamental. E é exatamente com esse pensamento que o Programa Atleta de Alto Rendimento (Paar) apoia 548 esportistas militares. Criada em 2008, a iniciativa é coordenada pela Defesa e executada pelas Forças Armadas, que, juntas, contribuem para que eles possam alcançar a mais alta performance.
Para isso, as Comissões de Desportos da Marinha (CDM), do Exército (CDE) e da Aeronáutica (CDA), abrem as portas das organizações militares para que os esportistas do Paar possam ter mais um apoio na trajetória. Cada Comissão é responsável pela questão desportiva da sua Força e os atletas têm à disposição toda infraestrutura necessária para o fortalecimento do alto rendimento. Os atletas quando incorporam ao programa já possuem aparato técnico das confederações e, alguns, de clubes. Assim, as Forças Armadas passam a somar esforços na trajetória esportiva.
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Todas as estruturas principais ficam localizadas na cidade do Rio de Janeiro e contam com equipamentos e instalações de ponta. Na Urca, a CDE, gerenciada pela Centro de Capacitação Física do Exército (CCFEx), dispõe de pista de atletismo; dojô para treinamento de judô e outras modalidades de lutas; ginásios cobertos; campo de futebol; quadras de vôlei de praia, poliesportivas e de tênis; uma moderna academia de musculação; e um centro de esgrima. Atualmente, encontra-se em obra um parque aquático, com piscina olímpica, piscina comum e plataforma de saltos ornamentais, além de salas de aula, vestiários, alojamentos e dependências voltadas para pesquisas sobre desportos aquáticos.
Em Deodoro, o CCFEx também tem a gestão do Centro Olímpico de Hipismo, além do Centro Militar de Tiro Esportivo (CMTE) - legados olímpicos de 2016 - em parceria com a Confederação Brasileira de Tiro Esportivo (CBTE). Toda essa infraestrutura foi fundamental para que a Terceiro Sargento Geovana Meyer conquistasse a sua primeira vaga olímpica aos 22 anos, na França. Ela, que tem contato com o esporte desde os nove anos, ingressou no Paar em 2020. Até então, só competia nas provas de ar comprimido. Com a entrada no Exército e com todo o apoio do programa, ela passou a ter contato com outras modalidades. E assim veio a conquista da vaga para os próximos Jogos Olímpicos, em Paris.
“Eu comecei a me destacar muito, de um jeito que nem eu esperava. Tanto é que a minha vaga veio na prova de três posições. Então, o equipamento que eu tenho hoje é do Exército. Se eu não tivesse entrado no programa, nem estaria nas Olimpíadas agora. A gente sempre tem muita ajuda deles [os militares], que dão todo o suporte que precisamos”, destaca Geovana. A prova que irá disputar consiste em acertar tiros em um alvo, com o atirador situado em diferentes posições. São 120 disparos no total, sendo 40 em cada configuração: deitado, de joelhos e em pé.
Na CDA, não é diferente. Localizada na Universidade da Força Aérea (Unifa), no Campo dos Afonsos (RJ), a FAB inaugurou o Centro de Treinamento Olímpico da Aeronáutica em 2016. O complexo conta com piscina e pista de atletismo homologadas pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), ginásio poliesportivo e zona de arremesso de peso. Também há um alojamento - com capacidade para 142 pessoas - e as instalações do Instituto de Ciências da Atividade Física (Icaf), centro de estudos voltado para o entendimento da performance e do desenvolvimento humano, tanto na área esportiva quanto na militar.
Celeiro de promessas e de grandes conquistas, o Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes (Cefan), da CDM, tem instalações que as seleções usam para treinar, como o Centro Nacional de Levantamento de Peso Olímpico. Também possui pista de atletismo, parque aquático com piscina olímpica aquecida - com energia solar - e tanque para saltos ornamentais, além do Ginásio Esportivo “Amazônia Azul”, que conta com dojô, ringue de boxe e mais. À disposição dos atletas, o Cefan possui, ainda, alojamento com leitos e o Centro de Reabilitação Físico-funcional Desportivo, que conta com toda infraestrutura para atividades de fisioterapia e laboratórios de biomecânica e de fisiologia para auxiliar em pesquisas clínicas.
A Sargento Beatriz Ferreira, bi campeã mundial de boxe e medalhista de prata nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021, vibra com todo investimento que tem acesso no Cefan. Dos dez atletas que compõem a seleção olímpica de boxe que representará o Brasil na França, nove pertencem ao Paar. Ela afirma que o apoio do programa é indispensável e que já saiu do Japão pensando em Paris, com treino de segunda a domingo.
“A gente sabe que é muito difícil ser um atleta de alto rendimento. No começo, não tem tanto apoio, não tem tanta estrutura, e a gente precisa de recursos para poder investir. Então, o programa é de extrema importância porque você, fazendo parte da equipe olímpica ou não, tem como investir para continuar treinando e se manter entre os melhores. Eu faço parte. Tenho muito orgulho de defender as Forças Armadas. Espero que continue e que possa trazer muito orgulho e muitas medalhas”, comemora Beatriz.
Os benefícios dos atletas do Paar são inúmeros. Além de disporem das instalações esportivas para treinamento, eles contam com todos os direitos da carreira militar, como salário; décimo-terceiro; férias; assistência médica, odontológica, de fisioterapia, de nutrição e psicológica; entre outros benefícios.
“Com certeza, esse programa ajuda muito os atletas. A gente tem uma estrutura que, realmente, poucos clubes no Brasil têm, tanto que a última seletiva olímpica de natação foi realizada na CDA. Então, a gente pode contar com todo esse apoio. É uma grande ajuda para todo atleta de alto rendimento do país. A gente consegue suprir as nossas necessidades e focar 100% nos nossos treinos”, ressalta a Sargento Viviane Jungblut, classificada para Paris na modalidade Águas Abertas, na prova de 10 quilômetros.
Os Jogos Olímpicos de Paris são novidade para Viviane. Apesar de já ter participado dos Jogos de Tóquio, há 3 anos, é a primeira vez que ela competirá somente em mar aberto. Jungblut tem origem na natação, onde já disputou provas longas como 800 m e 1500 m. No Japão, ela chegou a representar o Brasil e as Forças Armadas na piscina e no mar. Mas em Paris, será um novo marco: a decisão de focar 100% na modalidade mar aberto. “Um passo de cada vez. O primeiro passo veio com a conquista da vaga, e, com certeza, agora, a gente está treinando muito, trabalhando duro para chegar lá, em Paris, e entregar o meu 100% na água”, pontua.
Paar – Desde 2008, o Programa Atletas de Alto Rendimento é um marco na valorização do esporte no Brasil. Com 548 atletas participando em 35 modalidades (27 olímpicas), o programa promove excelência esportiva e desenvolvimento de talentos. Assim, a iniciativa reforça o compromisso do Ministério da Defesa com a promoção do esporte e com o desenvolvimento de atletas de alto rendimento.