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Polícia Sábado, 21 de Setembro de 2024, 11:00 - A | A

21 de Setembro de 2024, 11h:00 A- A+

Polícia / DISPUTA ACIRRADA

Guerra entre PCC e CV no Mato Grosso tem mortes de inocentes e casas queimadas

Disputa por territórios nas cidades de fronteira de Mato Grosso tem histórico sangrento, com morte até de soldado do Exército

GALTIERY RODRIGUES
DO METRÓPOLES

A localização estratégica de cidades de Mato Grosso na fronteira com a Bolívia é motivo de disputa acirrada entre as facções Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV). Nos últimos anos, a guerra sangrenta travada entre os dois grupos vitimou dezenas de pessoas, na região, inclusive inocentes.

O caso mais recente foi o duplo assassinato das irmãs Rayane Alves Porto, de 25 anos, e Rithiele Alves Porto, 28. Elas foram torturadas e mortas, segundo a polícia, por causa de uma foto publicada nas redes sociais, na qual, conforme a cúpula do CV, estariam fazendo o símbolo da facção rival, PCC. O crime ocorreu em Porto Esperidião, no oeste do estado.

A investigação segue em sigilo e o que se sabe, até então, conforme o relato do namorado de uma das vítimas, é que elas fizeram com a mão o símbolo do “rock”, somente. Rayane era candidata a vereadora na cidade. O caso comoveu a população local, mas pouco se fala sobre o assunto, pois existe certa lei do silêncio na região.

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O delegado Higo Rafael Ferreira fez questão de rechaçar o domínio de facções, após o registro do caso: “para deixar bem claro, quem manda na fronteira é a polícia. Facção nenhuma vai dominar a fronteira. Facção nenhuma vai determinar toque de recolher em sociedade ou medo”, disse ele em vídeo divulgado após a prisão dos suspeitos.

Realidade de violência

A realidade, no entanto, deixa claro o impacto da guerra entre facções na região. A recorrência de assassinatos colocou cidades de Mato Grosso entre as mais violentas do Brasil e da Amazônia Legal, nos últimos anos, conforme dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

A cidade de Sorriso, por exemplo, a 398 km de Cuiabá, apareceu como a sétima mais violenta do país no Atlas da Violência 2024. O município é um dos locais do estado onde existe contexto de disputa entre facções. A situação ficou pior, após a aliança feita entre o PCC e o grupo criminoso Tropa Castelar. Eles se juntaram para ameaçar a hegemonia do Comando Vermelho.

Um levantamento feito pelo Instituto Mãe Crioula, em 2023, e que está presente no documento Cartografias da Violência na Amazônia, divulgado no ano passado, apontou conflitos entre facções em sete cidades do Estado. Em outros quatro locais, a situação estaria controlada, mas a tensão persiste.

Veja abaixo:

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Soldado inocente foi morto em Cáceres

Cáceres, na fronteira com a Bolívia, está sob domínio do Comando Vermelho, mas já viveu cenário de disputa, com dezenas de mortes. O auge da guerra entre as facções ocorreu em 2022, quando até um soldado do Exército, de apenas 19 anos e que não tinha ligação com nenhum dos grupos, foi assassinado.

Thiago de Brito de Almeida foi morto em 22 de janeiro de 2022, quando jogava basquete com amigos na praça do bairro Cohab Nova. Um Chevrolet Classic Preto, ocupado por faccionados do CV, estacionou bruscamente no local e os criminosos perguntaram aos jovens de que lado eles estavam – PCC ou CV?. O soldado disse que não tinha lado, pois era militar.

Um dos criminosos seguiu questionando o rapaz e disse que não havia gostado da camisa do Flamengo que ele vestia. Thiago, que estava no primeiro ano como soldado no quartel de Cáceres, ficou com medo, virou as costas e saiu correndo. Ele conseguiu fugir por um trecho de 80 metros, apenas. Os integrantes do CV o perseguiram e ele foi alvejado nas costas.

No processo referente ao caso, consta o depoimento de Antônio Carlos do Couto Nascimento, de 23 anos. Ele se apresenta como filho de Antônio Demétrio de Souza, faccionado do PCC e tido, em 2022, como o inimigo número um do CV na região. O jovem relatou uma sucessão de ameaças, emboscadas e até casas queimadas.

Residências queimadas como represália

A ordem dentro do CV, diante da tentativa de avanço do PCC na cidade, era matar os integrantes do grupo rival, incluindo familiares. Nos dias após o assassinato de Thiago, chegou a circular em Cáceres que ele havia sido morto por engano, pois o alvo, na verdade, seria Denis, filho de Demétrio e irmão de Antônio Carlos.

Ao ser interrogado, Antônio relatou que teve a casa queimada no Bairro Residencial Jardim Universitário, e que uma amiga, de nome Eline, também havia passado pelo mesmo. Segundo o rapaz, ela seria irmã de Jacó, outro faccionado do PCC. O filho de Demétrio contou, ainda, que ele e a mãe foram alvos de tentativas de emboscada promovidas por integrantes do CV.

O contexto se acirrou de tal forma na região, nos últimos anos, que qualquer indício mínimo, por mais inverídico que seja, a exemplo dos sinais feitos com a mão pelas irmãs Rayane e Rithiele na foto tirada em Porto Esperidião, passou a ser visto como forma de apoio ao grupo rival. O detento Norivaldo Cebalho Teixeira, conhecido como “Véio”, é suspeito de atuar como o mandante dos assassinatos.

Agrônomo foi morto por causa de foto mostrando “três dedos”

Reprodução
Sinal em foto gerou morte de agrônomo na cidade de Diamantino (MT)

Um caso semelhante ao das irmãs ocorreu em 2022, na cidade de Diamantino, a 181 km de Cuiabá. Jonatan Roberto Garcia Parpinelli, de 36 anos, foi morto a tiros por um faccionado do Comando Vermelho, após tirar uma foto, na qual aparece mostrando “três dedos”, durante uma festa no Parque de Exposições da cidade.

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À época, testemunhas disseram que os amigos de Jonatam fizeram o sinal com a mão quando uma determinada música começou a tocar. Na hora, integrantes do CV foram até eles, questionaram se eles eram do PCC e perguntaram: “Querem perder a cabeça aqui?”.

A abordagem foi suficiente para gerar uma briga generalizada no local, que acabou em morte do lado de fora. Jonatan foi assassinado com três tiros na região do tórax. A vítima era agrônomo, morava na cidade havia poucos meses e, após investigação, foi constatado que ele não tinha ligação com facções.

A reportagem buscou respostas sobre o contexto de guerra entre facções vivenciado em Mato Grosso, junto à Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), mas não obteve retorno.

 

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