DA REDAÇÃO
O contato com águas contaminadas em eventos climáticos como as enchentes que ocorreram no Rio Grande do Sul pede atenção, pois representa riscos à saúde. Por isso, é importante procurar informação confiável e seguir as orientações das autoridades locais, como Defesa Civil e Corpo de Bombeiros.
Entre as principais preocupações estão doenças como a leptospirose e hepatite A, mas os perigos não param por aí. Além da água contaminada, há também as doenças transmissíveis em lugares lotados, como abrigos, e o alerta para ocorrência de lesões, tétano acidental, choque elétrico, alergias, acidentes com animais peçonhentos e outros problemas relacionados à higiene e condições alimentares precárias, como doenças diarreicas agudas.
Com saúde não se brinca e conteúdos falsos sobre o tema devem ser combatidos. Veja abaixo ações imediatas e as principais doenças após o contato com água contaminada:
Ações de saúde imediatas:
- Use de luvas, botas de borrachas ou outro tipo de proteção para as pernas e braços (como sacos plásticos duplos), para evitar o contato da pele com a água contaminada;
- Descarte para a coleta pública tudo o que não puder ser recuperado e remova, se possível com escova, sabão e água limpa, a lama que restou nos ambientes, utensílios, móveis e outros objetos da casa;
- Jogue fora medicamentos e alimentos (frutas, legumes, verduras, carnes, grãos, leites e derivados, enlatados) que entraram em contato com as águas da enchente, mesmo que estejam embalados com plásticos ou fechados, pois, ainda assim, podem estar contaminados;
- No caso dos utensílios domésticos (panelas, copos, pratos e objetos lisos e laváveis), lave-os normalmente com água e sabão. Depois, prepare uma solução desinfetante, diluindo um copo (200 ml) de água sanitária (hipoclorito de sódio a 2,5%) em quatro copos de água (800 ml). Mergulhe na solução os objetos lavados, deixando-os ali por, pelo menos, uma hora.
- Lave pisos, paredes, bancadas e quintal da casa com água e sabão. Desinfete, em seguida, com água sanitária (hipoclorito de sódio a 2,5%) na proporção de 200 ml para um balde com 20 litros de água limpa, deixando agir por 30 minutos.
- Nas residências que não possuem reservatórios domiciliares, os moradores devem, após o restabelecimento do abastecimento de água, deixar a água das torneiras escorrer por alguns minutos para eliminar a água contaminada dos canos.
Leptospirose
A doença é causada pelo contato de bactérias presentes na urina de roedores (rato, ratazana, camundongo) e que normalmente se espalha pela água suja de enchentes, de lamas e de esgotos. A urina de outros animais contaminados pela bactéria (bois, porcos, cavalos, cabras, ovelhas e cães) também pode transmitir a doença.
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Mesmo sendo difícil falar em prevenção, dependendo da situação, é importante saber como se proteger:
- Use sempre botas impermeáveis e luvas ao transitar em áreas inundadas. Essa barreira física pode reduzir significativamente o risco de contato direto com água contaminada.
- Se possível, cubra cortes ou arranhões com bandagens à prova d’água para evitar a entrada da bactéria.
- Durante enchentes, garanta que a água para consumo seja filtrada e fervida.
- Descarte alimentos que tenham entrado em contato com água de enchente para evitar a contaminação.
Os primeiros sintomas da doença são febre, dor de cabeça e dores pelo corpo, principalmente nas panturrilhas. É muito importante procurar atendimento médico imediatamente em caso de suspeita.
ATENÇÃO! Há muito conteúdo falso circulando sobre a doença, em especial sobre tratamentos preventivos. A profilaxia (prevenção) da leptospirose com antibióticos não deve ser adotada pela população em geral. Não há evidências científicas robustas sobre benefícios e riscos para um grande contingente populacional.
Hepatite A
Transmitida pela ingestão de água ou alimentos contaminados com esgoto ou dejetos humanos, a doença tem grande relação com alimentos ou água inseguros, baixos níveis de saneamento básico e de higiene pessoal. Outras formas de transmissão são o contato pessoal próximo (intradomiciliares, pessoas em situação de rua ou entre crianças em creches), contato sexual (especialmente em homens que fazem sexo com homens).
O período de incubação médio da hepatite A é de 15 a 45 dias.
Os sintomas, quando presentes, são inespecíficos, podendo se manifestar inicialmente como: fadiga, mal-estar, febre, dores musculares. Esses sintomas podem ser seguidos de outros, como enjoo, vômitos, dor abdominal, constipação ou diarreia. A presença de urina escura ocorre antes do início da fase onde a pessoa pode ficar com a pele e os olhos amarelados (icterícia). Os sintomas costumam aparecer de 15 a 50 dias após a infecção e duram menos de dois meses.
ATENÇÃO! Não há tratamento específico para hepatite A. O mais importante é evitar a automedicação para alívio dos sintomas, já que o uso de medicamentos desnecessários ou que são tóxicos ao fígado podem piorar o quadro. O médico saberá prescrever o medicamento mais adequado. A hospitalização está indicada apenas nos casos de insuficiência hepática aguda.
IMPORTANTE! Existe vacina segura e eficaz contra a doença disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). Excepcionalmente para situações de enchente, a aplicação da vacina em adultos será realizada dispensando a avaliação prévia junto ao Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIE), mantendo as indicações do Programa Nacional de Imunizações (PNI) e os registros nos sistemas de informação vigentes.
Formas de prevenção:
- Lavar as mãos (incluindo após o uso do sanitário, trocar fraldas e antes do preparo de alimentos);
- Lavar com água tratada, clorada ou fervida, os alimentos que são consumidos crus, deixando-os de molho por 30 minutos;
- Cozinhar bem os alimentos antes de consumi-los, principalmente mariscos, frutos do mar e peixes;
- Lavar adequadamente pratos, copos, talheres e mamadeiras;
- Usar instalações sanitárias;
- No caso de creches, pré-escolas, lanchonetes, restaurantes e instituições fechadas, adotar medidas rigorosas de higiene, tais como a desinfecção de objetos, bancadas e chão utilizando hipoclorito de sódio a 2,5% ou água sanitária.
- Não tomar banho ou brincar perto de valões, riachos, chafarizes, enchentes ou próximo de onde haja esgoto;
- Evitar a construção de fossas próximas a poços e nascentes de rios;
- Usar preservativos e higienização das mãos, genitália, períneo e região anal antes e após as relações sexuais.
Doenças Diarreicas Agudas (DDA)
As DDA correspondem a um grupo de doenças infecciosas gastrointestinais. Elas podem ser causadas por diferentes microrganismos infecciosos (bactérias, vírus e outros parasitas, como os protozoários) que geram a gastroenterite – inflamação do trato gastrointestinal – que afeta o estômago e o intestino. A infecção é causada por consumo de água e alimentos contaminados, contato com objetos contaminados e também pode ocorrer pelo contato com outras pessoas, por meio de mãos contaminadas, e contato de pessoas com animais.
Geralmente, há ocorrência de no mínimo três episódios de diarreia aguda em 24 horas, ou seja, diminuição da consistência das fezes e aumento do número de evacuações, quadro que pode ser acompanhado de náusea, vômito, febre e dor abdominal. Em geral, são doenças autolimitadas com duração de até 14 dias. Em alguns casos, há presença de muco e sangue, quadro conhecido como disenteria.
Importante: Se tratadas incorretamente ou não tratadas, as doenças diarreicas agudas podem levar à desidratação grave e ao distúrbio hidroeletrolítico, podendo ocorrer óbito, principalmente quando associadas à desnutrição ou à imunodepressão.
O tratamento é garantido na prevenção e na rápida correção da desidratação por meio da ingestão de líquidos e solução de sais de reidratação oral (SRO) ou fluidos endovenosos, dependendo do estado de hidratação e da gravidade do caso. Por isso, procure ajuda médica. Apenas após a avaliação clínica do paciente por um profissional, o tratamento adequado deve ser estabelecido.
Animais peçonhentos
Durante excessos de chuvas, pode, ainda, haver o desalojamento de aranhas, serpentes, escorpiões e lacraias. Esses animais geralmente se escondem sob entulhos, madeira empilhada, tijolos, telhas e lama. Em caso de picada, o local da ferida deve ser limpo com água e sabão e a vítima deve ser mantida sentada ou deitada, com o local afetado em posição mais elevada, e levada ao serviço de saúde mais próximo.
É importante ficar atento aos ambientes usados como esconderijo para estes animais, como locais com entulhos, empilhamento de madeira, tijolos, telhas e na remoção da lama.
A recomendação é lavar o local da ferida com água e sabão e deixar a vítima sentada ou deitada. Se a ferida for na perna ou no braço, mantenha-os em posição mais elevada e procure ajuda médica para receber atendimento o mais rápido possível.
Não amarre e não corte o local da ferida.
Para moradores do Rio Grande do Sul: o telefone 0800 721 3000 atende esses casos e funciona gratuitamente 24h, todos os dias da semana.
Tétano acidental
Pode ocorrer pela contaminação de ferimentos de pele ou em mucosas com terra, poeira, fezes de animais ou humanas que contenham esporos da bactéria que ocasiona a doença. O contato com os entulhos e os destroços durante os desastres podem provocar lesões na pele e, consequentemente, o adoecimento por tétano acidental.
Fique atento: O período de incubação varia em média de 3 a 21 dias. Observe os sintomas: febre baixa, dificuldade de deglutição, hipertonia muscular, hiperreflexia, espasmos e contraturas musculares generalizadas, com o paciente lúcido.
Boas práticas: não ande descalço, use luvas e sapatos impermeáveis.
Quando se acidentar e tiver uma lesão na pele, procure com urgência o serviço de saúde mais próximo e comunique todos os detalhes do acidente ao profissional de saúde. Lembre-se de levar a carteira de vacina junto, se possível.