ELISA RIBEIRO
DA REDAÇÃO
A candidatura do Maracatu Nação à Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade está oficializada. Na segunda-feira (31/03), o Governo Federal, por meio do Ministério da Cultura (MinC) e do Ministério das Relações Exteriores (MRE), entregou à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) o dossiê que será avaliado pelo Comitê Intergovernamental da Concenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial do órgão. O documento foi elaborado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) e pelas comunidades detentoras do bem cultural, registrado como patrimônio cultural do Brasil em 2014.
Em 2021, mestres detentores da forma de expressão representados pela Associação dos Maracatus Nação de Pernambuco (Amanpe) e pela Associação dos Maracatus de Olinda (AMO) solicitaram apoio do Governo do Estado de Pernambuco para a formalização do pedido ao Iphan. “É uma das manifestações culturais mais antigas de Pernambuco, originária do povo negro, da cultura de terreiro. Historicamente, sofremos com perseguições contra grupos de Maracatu. Esperamos que o reconhecimento internacional traga mais formas de salvaguarda, porque o Maracatu não é só diversão, o Maracatu salva vidas, é ferramenta social. Esperamos que os governos locais valorizem mais os fazedores de cultura”, disse o presidente da Amanpe, Fábio Sotero.
O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, órgão colegiado de decisão máxima do Iphan para registros e tombamentos de bens culturais, no segundo semestre de 2024, aprovou a indicação da candidatura do Maracatu Nação à Lista Representativa da Unesco.
Agora, com a documentação entregue, a expectativa é que a organização aprecie a candidatura do bem cultural até o final de 2026.
Para entrar na Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da Unesco, a candidatura deve seguir alguns critérios, como o bem cultural ser registrado como patrimônio imaterial pelo Iphan rer um plano de salvaguarda elaborado e garantir o envolvimento dos detentores do bem cultural no processo.
"O Maracatu Nação é uma forma de expressão profundamente enraizada na história e identidade afro-brasileira. Sua prática envolve rituais, tambores de tom profundo, cortejos reais e personagens simbólicos que celebram a ancestralidade e a diversidade cultural do Brasil, ao mesmo tempo em que também é um símbolo da resistência e criatividade dos povos africanos escravizados que chegaram ao País durante o período colonial”, destacou o presidente do Iphan, Leandro Grass. “As tradições centenárias do Maracatu Nação promovem a inclusão social, o diálogo intercultural e o empoderamento de comunidades periféricas historicamente marginalizadas”, afirmou.
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A diretora-presidente da Fundarpe, Renata Duarte Borba, destacou que o Maracatu Nação agrega os elementos da diversidade e identidade pernambucanas, e que seu reconhecimento internacional pode assegurar que os detentores possam ter acesso a oportunidades além dos limites de seus territórios. “O reconhecimento de uma prática com raízes de matrizes afro ajuda a dar continuidade às práticas relacionadas ao bem cultural, inclusive para as gerações futuras, tendo em vista que essas práticas sociais e culturais associadas à população de ascendência africana no Brasil merecem destaque, devido às lacunas ainda existentes e resultantes dos anos de história ignorada”, disse.
Atualmente, existem 7 bens culturais do Brasil inscritos na Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade:
• Modos de Fazer o Queijo Minas Artesanal - 2024
• Complexo Cultural do Bumba Meu Boi do Maranhão - 2019
• Roda de Capoeira - 2014
• Círio de Nazaré: procissão da imagem de Nossa Senhora de Nazaré na cidade de Belém (Estado do Pará) - 2013
• Frevo: arte do espetáculo do carnaval de Recife - 2012
• As expressões orais e gráficas dos Wajapis - 2008
• Samba de Roda do Recôncavo Baiano - 2008
Maracatu Nação
Também conhecido como Maracatu de Baque Virado, o Maracatu Nação é uma manifestação artística da cultura popular e carnavalesca da Região Metropolitana do Recife (PE), em que um cortejo real desfila pelas ruas, acompanhado de um conjunto musical percussivo. Composto majoritariamente por negros e negras, os maracatus nação podem ser remontados às antigas coroações de reis e rainhas do antigo Congo africano.
Marcada por musicalidade, dança e fé, a manifestação reúne aspectos brasileiros e de matriz africana e é reconhecida como Patrimônio Cultural do Brasil desde dezembro de 2014, sendo inscrita no livro de Registro das Formas de Expressão.
