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Geral Sexta-feira, 03 de Novembro de 2023, 15:40 - A | A

03 de Novembro de 2023, 15h:40 A- A+

Geral / IMPACTO AMBIENTAL

Desmatamento na Amazônia provoca forte aquecimento até em regiões distantes

Uma pesquisa recente revelou que o desmatamento na região Amazônica causa um forte aquecimento regional, em locais com até 100 km de distância

PAULA VALÉRIA
DA REDAÇÃO

O estudo publicado em 30 de outubro de 2023, na revista "Proceedings of the National Academy of Sciences" (PNAS), abordou o impacto do desmatamento na Amazônia e suas consequências nas áreas circundantes. Os resultados indicam que o desmatamento na Amazônia tem um impacto considerável no aumento da temperatura em uma área de até 100 quilômetros de distância do local onde a floresta foi perdida, de acordo com um estudo 

A pesquisa, realizada por uma equipe de cientistas brasileiros e britânicos liderada por Edward Butt, da Universidade de Leeds, reforça as pesquisas anteriores, que demonstraram como o desmatamento e a degradação das florestas podem contribuir para o aquecimento global. As florestas desempenham um papel importante na absorção de dióxido de carbono da atmosfera e na regulação do clima, e quando são removidas, a liberação de carbono e as mudanças nos padrões de uso da terra podem levar ao aumento das temperaturas. 

Estudo impacto do desmatamento na Amazônia

Reprodução

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A pesquisa é fundamental para entender o impacto das atividades humanas, como o desmatamento, sobre o meio ambiente e o clima, e destaca a importância de políticas de conservação e restauração florestal para mitigar as mudanças climáticas e proteger ecossistemas valiosos como a Amazônia.

O objetivo do estudo dos pesquisadores é saber sobre o efeito do desmatamento nas florestas tropicais, como a Amazônia,que não se limita apenas ao aquecimento local devido a mudanças na cobertura da terra, afetando a dinâmica atmosférica e a circulação de ar em regiões distantes, causando impactos em uma escala regional e até global. Concluindo que o impacto da perda florestal em locais até 100 quilômetros de distância da região do desmatamento.

Diversos estudos apontam que o desmatamento provoca um aquecimento local médio de 1°C a 2°C, que pode chegar a 3°C na estação seca.

No estudo publicado na PNAS, os pesquisadores buscaram responder se o desmatamento de áreas da Amazônia também provocava o aquecimento de locais mais distantes, por meio de mudanças na circulação do ar e da dinâmica atmosférica.

Esses efeitos podem ser resultado de mudanças na evaporação, na liberação de vapor de água na atmosfera, na reflexão da luz solar e em outros fatores que afetam o clima. 

Tecnologia

Para a realização mais aprofundada do estudo para quantificar o impacto do desmatamento na região, foram utilizando imagens de satélite e dados de temperatura do ar em superfície na Amazônia, ao longo de um período de quase duas décadas (de 2001 a 2020), juntamente com a análise de 3,7 milhões de locais em toda a bacia amazônica.

A distinção entre desmatamento local e regional (dentro de 2 km e entre 2 e 100 km de distância de um ponto de coleta de dados, respectivamente) permite aos pesquisadores avaliar os efeitos a diferentes distâncias do local de desmatamento, contribuindo para uma compreensão mais abrangente das consequências do desmatamento na Amazônia. Isso ajuda a identificar se o aquecimento se estende a áreas mais afastadas do desmatamento e, portanto, permite entender melhor as implicações regionais e potencialmente até globais do desmatamento.

Resultados

"Nossos resultados fornecem mais evidências de que tanto o desmatamento local como regional estão contribuindo para as respostas climáticas observadas no bioma amazônico", diz o estudo.

Em áreas com pouco desmatamento local, a mudança média na temperatura de 2001 a 2020 foi de 0,3°C. Enquanto isso, áreas com 40% a 50% de desmatamento local, mas pouco desmatamento regional, aqueceram em média 1,3°C.

Os cientistas aplicaram um modelo de aprendizado de máquina para isolar os efeitos locais e regionais da perda florestal e estimar como a alteração da temperatura dependia do desmatamento local e regional.

O resultado indicou que o desmatamento em uma área aumenta em até quatro vezes o aquecimento em regiões a até 100 quilômetros na região amazônica.

Quando o desmatamento local chegava a 40% da área, o impacto no aquecimento regional de áreas não desmatadas a até 100 quilômetros foi de 0,7°C. Quando tanto o ponto de recolha de dados como seu entorno de até 100 quilômetros havia sido desmatado em 40%, o impacto na temperatura foi de 1,6°C.

Impactos futuros

"o aquecimento regional devido ao desmatamento da Amazônia terá consequências negativas para os 30 milhões de pessoas que vivem na bacia amazônica, muitas das quais já estão expostas a níveis perigosos de calor".

Os cientistas também analisaram como o desmatamento futuro poderia aquecer ainda mais a Amazônia brasileira de 2020 a 2050, considerando dois cenários, um em que o Código Florestal é ignorado e as áreas protegidas não são salvaguardadas, e outro em que existe alguma proteção.

No sul da Amazônia, onde a perda florestal é maior, a observância das normas ambientais teria o maior benefício, reduzindo o aquecimento futuro provocado por desmatamento em mais de 0,5°C em Mato Grosso - de 0,96°C no pior cenário para 0,4°C no cenário de preservação. Essas projeções não incluem o acréscimo de temperatura provocado pelo aquecimento global.

Celso von Randow, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e coautor do estudo, comentou: “No Brasil, são comuns estudos sobre a importância da conservação das florestas para o armazenamento de carbono, mas ainda faltam estudos sobre seus efeitos biofísicos. Isto é importante porque a Amazônia está aquecendo rapidamente devido às mudanças climáticas, e agora agravado pelo desmatamento”.

O trabalho mostra que a proteção das florestas trará grandes benefícios em escala local, regional e nacional. Dominick Spracklen, professor da Univerdidade de Leeds e coautor do estudo, disse: “Mostramos que a redução do desmatamento reduziria o aquecimento futuro no sul da Amazônia. Isto beneficiaria as pessoas que vivem em toda a região através da redução do stress térmico e dos impactos negativos na agricultura”.

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