JUNIO SILVA
DO METRÓPOLES
O regime de Nicolás Maduro decidiu convocar o embaixador do país em Brasília, Manuel Vadell, para retornar a Caracas, e fez duras críticas à diplomacia brasileira em meio à tensão nas relações entre Brasil e Venezuela.
Além de chamar o diplomata venezuelano para consultas, o governo chavista convocou o encarregado de Negócios da Embaixada do Brasil em Caracas, Breno Hernann, e expressou repúdio contra declarações recentes de Celso Amorim.
Recentemente, o assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para assunto externos explicou o veto à Venezuela no Brics, e afirmou que o país comandado por Maduro não possui requisitos básicos para integrar o bloco.
“O Brasil não quer uma expansão indefinida, o Brasil acha que tem que ser países com influência e que possam ajudar a representar a região. E a Venezuela de hoje não preenche essas condições na nossa opinião”, disse Amorim a parlamentares presentes na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados.
A fala não foi bem vista pelo regime de Maduro, que, nos últimos dias, iniciou uma série de ataques contra o governo Lula após a Venezuela ser barrada nos Brics. No mais recente deles, o governo chavista ainda prometeu tomar “medidas necessárias” contra o Brasil.
Os recentes comentários da chancelaria venezuelana aumentam, ainda mais, a recente crise diplomática entre os dois países que se estende desde as eleições presidenciais na Venezuela em julho, e pode caminhar para um rompimento de relações.
Reflexos
Além do possível reflexo negativo no comércio entre os dois países, que girou em torno de US$ 1.150.826.000 bilhões entre exportações e importações no último ano, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, analistas ouvidos pelo Metrópoles indicam que venezuelanos podem ser os principais afetados caso o vínculo diplomático entre Brasil e Venezuela seja cortado.
Vivendo uma crise de refugiados desde 2017, diversos cidadãos venezuelanos procurado o Brasil em busca de melhores condições de vida. Nos últimos cinco anos, a Organização Internacional para as Migrações (OMI) da ONU estima que mais de 1,3 milhão deles cruzaram a fronteira na procura de abrigo.
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No último ano, venezuelanos lideraram a lista de nacionalidades que mais buscaram refúgio no Brasil, e representaram 50% do total de solicitações recebidas pelo governo brasileiro no período, com 29.467 pedidos. Os dados são do último relatório “Refúgio em Números” do Observatório de Migrações Internacionais (OBMigra) em parceria com o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP).
“Eu acho que a população venezuelana que entra no Brasil buscando solicitar refúgio seriam os maiores prejudicados em um primeiro momento, uma vez que eles perderiam o contato institucional e direto com o seu país de origem”, explica o analista de política internacional Vito Villar. “Além disso, toda essa operação realizada pelo governo brasileiro na fronteira também poderia ficar prejudicada, pois provavelmente a Venezuela colocaria impeditivos no transcorrer pacífico da situação”.