BRUNO BUCIS
DO METRÓPOLES
Muita gente se sente confortável para evacuar apenas quando está em casa e, com isso, acaba segurando o cocô por horas. Porém, o hábito pode trazer impactos negativos à saúde, alertam os médicos.
A evacuação ocorre com a combinação de dois movimentos, os reflexos gastrocólicos, que são involuntários e conduzem o bolo alimentar ao longo do intestino, e a movimentação do reto, voluntária — na maioria das vezes — e que permite a eliminação das fezes que se acumulam na região.
O controle da musculatura do reto é algo que aprendemos desde crianças. Os coloproctologistas afirmam, porém, que quanto mais se treina a capacidade de manter as fezes presas, mais tolerante o corpo se torna à presença do cocô e o ato de evacuar se torna mais trabalhoso.
“É importante respeitar a vontade evacuatória e não ficar segurando muito tempo para manter o ritmo do eixo intestino-neural. Quando a gente segura as fezes, acaba gerando uma constipação refratária e prejudicando o ato evacuatório. Na prática, perdemos parte do controle que temos”, aponta o coloproctologista Dirceu de Castro Rezende Junior, do Hospital Santa Marta, em Brasília.
Riscos de segurar o cocô
A progressiva perda do controle do ato evacuatório por segurar as fezes tempo demais pode levar a uma série de complicações de saúde. Confira as principais:
Retocolite ulcerativa
Embora a causa da colite seja pouco conhecida, a doença inflamatória intestinal pode ter relação com o acúmulo de fezes. Em exposição prolongada, as bactérias do cocô podem inflamar a mucosa do intestino grosso e do reto, causando uma espécie de doença de Crohn localizada. A condição não tem cura e os sintomas podem incluir dor abdominal, urgência evacuatória, diarreia e sangue nas fezes.
Fecaloma
Prender o cocô por tempo demais pode levar à formação de fezes empedradas, já que uma das principais funções da porção final do intestino é retirar a água do cocô. Quanto mais tempo as fezes passam ali, mais secas ficam e maior o risco de ter um fecaloma — algumas vezes, é preciso cirurgia para retirá-lo do corpo.
Hemorroidas
Ao evacuar com as fezes ressecadas, se exige muito esforço da musculatura anal para expulsar o cocô, o que pode levar à inflamação das veias da região, que causam as hemorroidas.
Qual é a frequência adequada de fezes?
Os efeitos graves de segurar as fezes não são imediatos e é compreensível que algumas situações sociais te impeçam de ir ao banheiro. Entretanto, é importante evitar ao máximo segurar o cocô para manter o bom funcionamento do órgão.
Rezende Junior esclarece, porém, que o ideal também não é estar com o intestino livre demais. “Cada organismo tem sua frequência evacuatória padrão, mas consideramos que ela é saudável quando se concentra entre três vezes ao dia e três vezes na semana. Qualquer valor fora deste intervalo deve motivar uma consulta com o especialista”, conclui.
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A também coloproctologista Geanna Resende, de Goiânia (GO), observa que o intestino é educável e que evitar os danos de uma prisão de ventre envolve entender o funcionamento do sistema digestivo.
“Para quem tem tido problemas, o ideal é se concentrar no momento que vai ao banheiro. Não use o celular. Se sente, preferencialmente com os pés um pouco mais elevados, e aguarde alguns minutos. Caso não evacue, aguarde a vontade reaparecer ao longo do dia. Faça isso diariamente, no mesmo horário, que o corpo vai se acostumar a usar este momento para defecar”, ensina Genna.