Cuiabá, 31 de Março de 2025
DÓLAR: R$ 5,71
FTN Brasil | Jornal de Verdade

Cidades Terça-feira, 25 de Março de 2025, 11:44 - A | A

25 de Março de 2025, 11h:44 A- A+

Cidades /

Moradores do São Gonçalo Beira Rio cobram presença de Abilio em Mutirão de Limpeza no rio Coxipó

Sem posto de saúde e afetados por restrições à pesca, moradores enfrentam dificuldades no acesso a serviços essenciais e na manutenção de suas tradições

PAULA VALÉRIA
DA REDAÇÃO

Fundado há 307 anos, o bairro São Gonçalo Beira Rio, o primeiro de Cuiabá, é um verdadeiro tesouro histórico. Suas ruas e restaurantes preservam as tradições que deram forma à cidade, tornando o bairro um museu a céu aberto, onde cada esquina conta a história de gerações passadas.

No entanto, a modernidade impõe desafios que exigem uma união entre preservação e inovação para garantir qualidade de vida aos moradores. A comunidade ribeirinha enfrenta sérios problemas, uma delas é a falta de um posto de saúde adequado. A ausência de atendimento médico adequado, especialmente em emergências, preocupa, principalmente diante do avanço de doenças como chikungunya e dengue.

Além disso, os pescadores denunciam os impactos ambientais que afetam a região e reforçam a necessidade de medidas urgentes para conter a degradação do rio, com a presença excessiva de lixo e os danos causados pela dragagem, que tem provocado desbarrancamentos. E também as restrições impostas pela Lei do Transporte Zero, que impede a pesca de diversas espécies.

Falta de atendimento da saúde

A equipe de reportagem do portal O Fato News (FTN Brasil) foi in loco conversar com os moradores da comunidade ribeirinha de São Gonçalo Beira Rio. Eles relataram sobre a ausência de um posto de saúde no bairro que tem gerado sérias preocupações dentro da comunidade, sobretudo diante do avanço de doenças como chikungunya e dengue.

"Para termos atendimento em posto de saúde temos que ir no bairro Jardim Jockey Club, ou Parque Cuiabá. Ainda mais agora com essa chikungunya e dengue", declara uma moradora da região, que narrou a dificuldade de acesso a serviços básicos de saúde.

A necessidade de se deslocar para outras regiões para obter atendimento médico não só expõe os moradores a riscos maiores em casos de emergências médicas, como também aumenta a vulnerabilidade da população diante dos surtos de doenças transmitidas pelo mosquito.

Saúde ambiental do Rio Coxipó

Outro ponto narrado pelos moradores foi sobre a limpeza realizada pela Empresa Cuiabana de Limpeza Urbana (Limpurb). Segundo uma moradora este ano não houve nenhuma ação de limpeza por parte da prefeitura de Cuiabá. "Até agora, a Limpurb não passou para limpar o rio. Somos nós, moradores, que retiramos o lixo. Estamos confiando no prefeito Abilio para resolver essa situação", afirmou uma moradora.

Foto: Romário Abreu/FTN Brasil

WhatsApp Image 2025-03-24 at 18.35.24.jpeg

O morador Benedito Leite de Campos também fez um apelo ao gestor municipal. "Quero pedir ao nosso prefeito que olhe mais para o bairro São Gonçalo. Aqui, ele recebeu muitos votos. Seria importante que ele viesse até a beira do rio para ver a situação de perto. Se a coleta de lixo está marcada para o dia 8 de abril, que ele venha com sua equipe participar da ação. Eu e os moradores vamos te ajudar a catar lixo aqui", declarou.

"A gente não pode nem tirar um peixe para comer. A dragagem está destruindo tudo, causando desbarrancamentos no rio, e há muito lixo espalhado", continuou.

Outra situação que tem impactado o rio é o acúmulo de lixo na estação de tratamento de água (ETA). "A ETA que capta água aqui enfrenta um grande volume de resíduos que se acumulam na draga, principalmente durante as chuvas. É garrafa PET, geladeira velha, animais mortos, e ninguém faz a limpeza. Moro aqui há 13 anos e fico triste ao ver todo esse lixo descendo da cidade e dos bairros vizinhos quando chove", informou o morador.

ACOMPANHE: Tenha notícias exclusivas no WhatsApp acessando o link: (clique aqui)

Lei Transporte Zero

Foto: Paula Valéria/FTN Brasil

Pescador

Outro fator alarmantes, os pescadores do São Gonçalo Beira Rio estão enfrentando sérios prejuízos após a implementação de uma lei estadual número 12.197/2023, conhecida como "Transporte Zero", que proíbe, por cinco anos a partir de 2024, o transporte, armazenamento e comercialização de pescado em Mato Grosso.

Inicialmente apresentada como uma medida de proteção aos recursos naturais, a norma tem impactado negativamente a subsistência e a cultura local, além de restringir direitos fundamentais dos pescadores artesanais.

A lei chegou a ser questionada no Supremo Tribunal Federal (STF) e criticada pela Defensoria Pública da União, que a considera inconstitucional e violadora de direitos humanos, a lei, segundo o governo estadual, visaria reduzir estoques pesqueiros ameaçadores a espécies nativas; na prática, contudo, a medida tem agravado a crise econômica e ameaçado a continuidade de uma tradição cultural essencial para a região.

Na prática, a lei "Transporte Zero" proíbe, por cinco anos, o transporte, armazenamento e comercialização de 12 espécies de peixes – incluindo Cachara, Caparari, Dourado, Jaú, Matrinchã, Pintado/Surubin, Piraíba, Piraputanga, Pirara, Pirarucu, Trairão e Tucunaré. Embora outras espécies possam ser pescadas dentro das cotas estabelecidas, a medida afeta diretamente cerca de 15 mil famílias de pescadores artesanais.

Os pescadores da região relataram as dificuldades com as restrições impostas pela Lei do Transporte Zero e a escassez de peixes maiores no rio. "Hoje, a gente só pode pescar Corimba, Bagre e Piava, e isso quando consegue pegar alguma coisa. Peixe grande, mesmo, praticamente desapareceu. E quando conseguimos pescar um, só podemos tirar para comer, porque, se vendermos, corremos o risco de sermos multados ou até presos", afirmou um pescador local.

Outra situação é que, desde a entrada em vigor da Lei do Transporte Zero, foi prometido um auxílio financeiro de um salário mínimo, além de cursos de capacitação pelo programa SER Família Capacita, para os pescadores cadastrados no Repesca-MT, da Setasc. No entanto, muitos pescadores ainda não receberam nenhum valor até hoje.

De acordo com o governo de Mato Grosso, os pescadores cadastrados devem receber o auxílio mensalmente, com exceção do período de piracema, quando o pagamento é interrompido e os pescadores passam a receber o seguro-defeso, benefício concedido pelo Governo Federal.

Riqueza na Cultura

A comunidade de São Gonçalo Beira Rio tem suas origens que remontam ao final do século XVII ou início do século XVIII. Localizada à margem esquerda do rio Cuiabá, a 11 quilômetros do centro da cidade, próxima à barra do Rio Coxipó, a comunidade se destaca por sua história e tradição cultural. Inicialmente formada por pescadores e artesãos, a localidade tornou-se um verdadeiro cartão-postal da capital mato-grossense.

A região é tradicional na arte da cerâmica, na produção da icônica Viola-de-Cocho e na preservação de danças folclóricas como o Cururu e o Siriri. O artesanato local e a gastronomia à base de peixes tornam-se grandes atrativos para visitantes e turistas, especialmente nos finais de semana e feriados.

Atualmente, a comunidade conta com diversas peixarias e pontos de venda de artesanato, atraindo centenas de visitantes. Além disso, celebra quatro festas tradicionais ao longo do ano: a Festa de São Gonçalo (em janeiro), a Festa do Peixe (no aniversário de Cuiabá, 8 de abril), a Festa do Pescador (em junho) e a Festa das Ceramistas (em novembro), reforçando sua identidade cultural e histórica.

Foto: Paula Valéria/FTN Brasil

Marco Zero

A história urbana de Mato Grosso tem início em 1719, com a bandeira de Pascoal Moreira Cabral, que, à procura de índios para o cativeiro, acabou encontrando ouro no rio Coxipó. Como resultado, fundou o Arraial da Forquilha, localizado no atual distrito de Coxipó do Ouro. Para assegurar a posse da área, foi lavrada uma ata de fundação no dia 8 de abril do mesmo ano, na localidade então chamada de São Gonçalo Velho, atualmente conhecida como São Gonçalo Beira Rio.

Em março de 2022, o bairro recebeu um novo marco histórico com a inauguração do Monumento das Monções, também conhecido como "Marco Zero". Com 17 metros de altura e idealizado pelo arquiteto Moacyr Freitas - desenvolvido pela arquiteta Jacqueline Rachid Jaudy - o monumento simboliza a chegada dos primeiros bandeirantes à região, remetendo às três embarcações que navegavam pelo Rio Cuiabá. A obra, entregue pelo então prefeito Emanuel Pinheiro juntamente com a Praça Cândido Manoel da Silva, foi realizada pela Prefeitura de Cuiabá em parceria com as secretarias de Cultura, Esporte e Lazer, Obras Públicas e a Limpurb, reforçando o potencial turístico e valorizando uma das áreas mais tradicionais da cidade.

Álbum de fotos

Foto: Paula Valéria/FTN Brasil

Foto: Paula Valéria/FTN Brasil

Foto: Romário Abreu/FTN Brasil

Foto: Romário Abreu/FTN Brasil

Foto: Romário Abreu/FTN Brasil

Foto: Paula Valéria/FTN Brasil

Foto: Romário Abreu/FTN Brasil

Comente esta notícia

Esse est et proident pariatur exercitation