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Milei, que vê Mercosul como “prisão”, presidirá o bloco em 2025

Após finalizar o esperado acordo com a União Europeia, o Mercosul terá presidência de Milei e chegada de mais um presidente de esquerda

ISABELLA CAVALCANTE
DO METRÓPOLES

O Mercosul entrará em 2025 com algumas mudanças e expectativas de como o grupo irá se reorganizar. Isso porque o presidente da Argentina, Javier Milei, assumiu o comando do bloco na sexta-feira (6), mesmo após ameaçar romper com Mercosul diversas vezes. Além disso, o esquerdista Yamandú Orsi substituirá Luis Lacalle Pou como mandatário do Uruguai e passará a compor o grupo.

O bloco sul-americano encerra o ano em alta, após conseguir finalizar o acordo comercial com a União Europeia (UE), negociação que ultrapassou 20 anos. Apesar disso, ao assumir o grupo, Milei reforçou seus problemas e o chamou de “uma prisão que não permite que os países membros possam aproveitar nem suas vantagens comparativas nem seu potencial exportador”.

Especialistas ouvidas pelo Metrópoles indicam que, nesse momento, o presidente argentino não deverá cumprir sua promessa de rachar o Mercosul, mas poderá dificultar a operação unificada do grupo.

“Ele sabe o quanto é importante o Mercosul e tem mantido posição pragmática, pelo menos por enquanto. Ele não tiraria a Argentina, porque ainda há comércio significativo de Argentina e Brasil pelo Mercosul. Pode ser que no futuro ele faça essa proposta. Ele pode endurecer as posições, ele costuma a fazer ataques aos outros sócios, especialmente governos de centro-esquerda, e vai insistir na política comercial”, avaliou Flavia Loss, professora de Relações Internacionais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) e pesquisadora do Observatório de Regionalismo (ODR).

Já a professora doutora da universidade São Judas Tadeu Ana Carolina Marson apontou que a falta de apoio internacional dificulta a saída de Milei do bloco, mas a ascensão de Donald Trump, nos Estados Unidos, pode inspirar a retomada dessa promessa de campanha.

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“Não que o Trump apoie o Milei, mas pode dar a ele essa segurança do movimento de ultra direita”, disse. “Porém, acho muito difícil que isso aconteça. A Argentina, economicamente, não consegue se isolar, todos os países dependem de outros em determinado nível. Isso pode ser muito prejudicial à economia argentina”.

Chegada de Orsi

Apesar disso, a chegada do uruguaio Orsi no Mercosul ajuda a balancear politicamente o grupo. Ele se junta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como representante de uma ideologia de centro-esquerda, enquanto Milei tem Santigo Peña no espectro mais à direita.

“A entrada do Orsi equilibra a relação entre os países membros, o que é muito bom para o Lula, porque ele não vai ser voto vencido nas pautas debatidas no Mercosul”, acredita Marson.

No entanto, o presidente uruguaio concorda com a ideia de Milei para as nações do Mercosul poderem negociar de forma bilateral alguns acordos. Atualmente, a tratativa ocorre de forma conjunta enquanto bloco.

 

“Esse é um ponto muito sensível, muito importante para o Brasil, porque na nossa política externa nós acreditamos que essa é uma forma de fortalecer a coesão do bloco entre os sócios do Mercosul e que isso também fortalece a posição do Brasil e dos outros sócios diante de negociações comerciais. É um ponto que o Brasil insiste muito”, afirmou Loss.

“Orsi tem essa diferença de opinião a respeito da política comercial do Mercosul, mas ele não é um radical, não é alguém que vai causar um tumulto ali dentro do bloco. Ele tenta sempre chegar em posições de consenso. Essa já é uma característica dele enquanto político e ele também é muito mais afável, muito mais amistoso com os outros sócios”, complementou.

Lula

No próximo ano, o foco de Lula deverá deixar o Mercosul, após a conclusão do acordo com a União Europeia, e se voltará para a realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), em Belém (PA).

Para Marson, o objetivo do brasileiro “foi trazer o Mercosul de volta à vida” nos últimos anos e, dessa forma, ampliar o comércio do país. “A pauta é voltar a essa relevância do bloco, retomar essa relevância do bloco no cenário internacional. E eu acredito que ele vá manter isso até o final do mandato dele”.

Segundo Loss, o Mercosul não tem mais tanta “prioridade” para o petista, mas a posição do governo continuará para manter a coesão do grupo por negociações, manutenção do trabalho em conjunto e outros projetos como fortalecimento da democracia no mundo e cuidado com os direitos humanos.

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