BRUNO BUCIS
DO METRÓPOLES
Pesquisadores da Universidade da Califórnia, dos Estados Unidos, desvendaram o mecanismo pelo qual o vírus da zika prejudica o desenvolvimento cerebral de bebês, levando a casos de microcefalia.
Em estudo publicado nesta segunda-feira (13) na revista mBio, os cientistas mostraram que o vírus “sequestra” a proteína ANKLE2 da placenta do bebê para usá-la em sua própria multiplicação. Essa substância é essencial para o crescimento do cérebro do feto.
“Descobrimos que o caso é um daqueles de estar no lugar errado na hora errada”, resumiu a geneticista molecular Priya Shah, líder do estudo.
O zika, transmitido pelo Aedes aegypti, é conhecido por causar microcefalia nos fetos quando a gestante é infectada pelo vírus. O quadro leva ao crescimento anormal do cérebro, causando o subdesenvolvimento de todo o crânio e da capacidade cognitiva do bebê.
Como o zika interfere no feto?
Pesquisas anteriores já apontavam o zika como um vírus especialmente perigoso por ter a capacidade rara de atravessar a placenta. O novo estudo mostra que o patógeno usa a proteína ANKLE2 para criar fábricas de reprodução viral dentro das células hospedeiras.
A tática é a mesma usada pelos vírus da febre amarela e da dengue, mas como estes têm uma capacidade menor de atravessar a placenta, causam impactos menores no feto.
O experimento de Shah apontou que, ao usar células humanas com ausência de ANKLE2, o vírus perde drasticamente a capacidade de se multiplicar. “Isso mostra que a proteína é realmente importante, mas não essencial, para formar esses bolsões de replicação de vírus”, completou a professora em um comunicado à imprensa.
Impactos em humanos e mosquitos
A equipe de Shah descobriu que o vírus zika também usa a proteína ANKLE2 quando infecta células de mosquitos. O achado significa que a interação é importante tanto em hospedeiros humanos quanto insetos.
Os médicos acreditam que a doença use a proteína sequestrada das células de seus hospedeiros para passar despercebida pelas defesas do organismo, se camuflando e se reproduzindo em larga escala.
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Por isso, os pesquisadores acreditam que agora a ANKLE2 possa ser uma chave de combate às doenças, eventualmente usando medicamentos que melhorem a diferenciação do corpo das proteínas que foram capturadas de uma que é normal.
Sintomas e tratamento da zika
De forma geral, os sintomas da zika costumam ser leves, incluindo febre baixa, manchas na pele, coceira e vermelhidão nos olhos. A infecção representa maior perigo para gestantes devido ao risco de microcefalia, que pode aparecer até mesmo semanas depois do parto.
A infectologista Raíssa de Moraes, da Afya, explica que o tratamento da doença é sintomático. “São usados medicamentos que aliviam a coceira no corpo, por exemplo. Todos os sintomas da dengue também podem ser manifestados após a infecção pelo vírus da zika”, esclarece.
Moraes também destaca que alguns remédios precisam ser evitados caso exista a suspeita de zika, como o ácido acetilsalicílico (AAS), os anti-inflamatórios e os corticoides.