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Política e Eleições Segunda-feira, 12 de Agosto de 2024, 16:40 - A | A

12 de Agosto de 2024, 16h:40 A- A+

Política e Eleições / IMPACTO DO AGRO NO MT

"Estado mais rico e mais pobre do Brasil”, revela pesquisador da UFMT

Professor doutor Wanderlei Pignati (UFMT) trata dos impactos do modelo de produção do agro na saúde e no meio ambiente

PAULA VALÉRIA
DA REDAÇÃO

Estudos apresentados no Conselho de Representantes do Sintep-MT (Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso) nesta última semana revelaram uma situação no Estado que reflete contradição significativa entre o crescimento econômico e os impactos sociais e ambientais. Apesar do estado ser um dos maiores produtores agrícolas do Brasil, impulsionado pelo agronegócio, os efeitos adversos desse modelo econômico são evidentes, especialmente nas questões de saúde pública e pobreza.

Em palestra apresentada pelo professor Wanderlei Pignati, da UFMT, que tem se dedicado por mais de duas décadas ao estudo dos impactos do agronegócio, particularmente no que diz respeito ao uso intensivo de agrotóxicos. Foi apresentado os estudos que mostram que as substâncias como o Glifosato e o 2,4 D, amplamente utilizadas nas plantações de soja, algodão e milho, têm contaminado não apenas os alimentos, mas também a água, o ar e até o leite materno. Essa contaminação está diretamente associada ao aumento de adoecimentos e mortes na população local.

Esses problemas revelam a face "perversa" de um modelo que, embora contribua para um PIB elevado, não promove a qualidade de vida para grande parte da população. Ao contrário, intensifica a vulnerabilidade social e ambiental, levando a um ciclo de empobrecimento e deterioração da saúde pública. Isso coloca em questão a sustentabilidade desse modelo de desenvolvimento e aponta para a necessidade urgente de políticas públicas que conciliem crescimento econômico com a proteção da saúde e do meio ambiente.

 A aplicação indiscriminada desses venenos, especialmente em culturas transgênicas, eleva a incidência de doenças, como diferentes tipos de câncer, má formação fetal, abortos, lesões pulmonares e renais, e Mal de Parkinson. Esses problemas são mais graves nas regiões onde o agronegócio predomina. "Mato Grosso é o estado que mais usa agrotóxicos por hectare, liderando a produção de algodão, soja, milho e bovinos no Brasil, e, consequentemente, o uso de defensivos agrícolas", afirmou Pignati.

Os danos à saúde da população são agravados pela destruição ambiental, já perceptível no Pantanal e na Amazônia mato-grossense. "Estão contaminando nascentes e devastando a mata e o cerrado. Embora 70% do PIB venha do agronegócio, os lucros não são compartilhados com a população", ressaltou o pesquisador.

Os impactos do agronegócio em Mato Grosso, conforme destacados pelo professor Wanderlei Pignati, são profundamente preocupantes, especialmente no que diz respeito à saúde da comunidade escolar e à economia do estado. A contaminação das águas em escolas, como em Campo Novo do Parecis e Lucas do Rio Verde, evidencia a gravidade da situação, com agrotóxicos sendo detectados no sangue de professores e alunos. O relato de um dirigente do Sintep-MT, diagnosticado com câncer e com níveis de agrotóxicos três vezes superiores ao permitido em seu organismo, sublinha os riscos à saúde que essas comunidades enfrentam.

Além dos efeitos devastadores na saúde, Pignati chama a atenção para a contradição econômica do modelo de produção vigente. Embora o agronegócio represente 70% do PIB de Mato Grosso, os benefícios econômicos são concentrados nas mãos de grandes fazendeiros, deixando a maioria da população sem acesso aos lucros gerados. A Lei Kandir, que isenta de impostos os produtos primários destinados à exportação, agrava essa situação, resultando em menos recursos para o estado, apesar do aumento na produção e exportação.

Pignati também menciona denúncias de corrupção, onde parte da produção agrícola é desviada para centros industriais nacionais, evitando o pagamento dos impostos devidos ao estado, o que contribui ainda mais para a desigualdade econômica. Esses fatores combinados revelam uma realidade em que o crescimento econômico não se traduz em desenvolvimento social e bem-estar para a população, destacando a necessidade urgente de reformular as políticas econômicas e ambientais em Mato Grosso.

"Quanto mais produzem e exportam, menos recursos ficam aqui. Além disso, há denúncias de corrupção, com parte da produção sendo desviada para centros industriais nacionais, sem pagar os impostos devidos ao estado", concluiu Pignati.

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